terça-feira, 23 de junho de 2009

Pertencendo


Hoje vi um documentário sobre a classe C.
Muito bem produzido, e parece ser apenas uma pequena parte do iceberg que foi o estudo feito. Excelente para ilustrar aos gringos o momento econômico do país e as mudanças pelas quais estamos passando.
Uma das entrevistas era com uma moça de uns trinta anos, negra, de família muito humilde que com o seu trabalho acabou conseguindo pagar uma faculdade particular, mais precisamente a Universidade Anhembi Morumbi. Que a olho nu já percebe-se ser uma das instituições que acabam atraindo além de estudantes de classe A,que escolhem fazer cursos caros como Gastronomia e Hotelaria, também estudantes de classe C/D ou agora C, pela facilidade do Vestibular.
Embora esse não seja o tema do vídeo, ela falou muito sobre pertencimento. Como foi louco estar todos os dias num lugar estudando e lotando a cabeça de referências que nunca fizeram parte de seu mundo, com gente que passa finais de semana na praia ou em Miami. E depois naturalmente voltar para um subúrbio cheio de dificuldades onde a novela das oito bomba sem parar e o assunto é o ônibus nosso de cada dia.
Estar diariamente em dois lugares que não se falam, pode parecer enriquecedor por um lado, e pode ser desgastante por outro. Afinal um é a casa, o outro é o trabalho (ou escola ainda que por um tempo). Um é o aconchego dos filhos, marido namorado, o outro é o mundo corporativo que em geral não tem aconchego algum. Mas os dois são escolhas, que de alguma forma se falam, afinal postos de trabalho estão ligados a qualificação, ao mundo ao qual pertencemos, a outras escolhas que fizemos anteriormente. A família, as vezes está ligada, outras vezes não. Mas o marido, namorado, os amigos com os quais convivemos, em geral tem uma realidade conectada com a nossa de várias formas, ou de alguma forma. Porque também fazem parte das nossas escolhas.
E quando as realidades não se conectam, por que estamos tentando mudar de uma pra outra? Como se faz para saber como agir e ser feliz quando já não pertencemos a um lugar e ainda não estamos num outro novo?
Palmas pra quem passa por isso por anos e consegue tirar o melhor. Como a tal moça que se formou com um bando de gente que simplesmente vivia num universo paralelo ao dela. E possivelmente nem estava entendendo direito as negativas da colega para a viagem de final de ano a Paris. Possivelmente ela estivesse realmente ocupada dando duro e virando mais uma integrante da classe C.

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